sábado, setembro 30, 2006

Viagem no Tempo...

O escutismo do passado, presente e futuro, apesar de unidos por um laço em comum, divergem entre si devido a ramificações diversas que, a cada época se foram construindo, de acordo com a visão escutista e do que era melhor para o escutismo então! Para conhecer o escutismo de outrora, nada melhor que falar com alguém que o viveu nesse tempo, para desse modo realizar uma viagem no tempo fidedigna...

Foi com esse intuito que nos sentamos à mesa com António Gomes Rodrigues, nascido a 31/03/1949, cuja juventude foi vivida em pré 25 de Abril, e que portanto reflecte um panorama cultural e social bastante diferente do actual...

Quando Lobito, à porta da sua sede

Ingressado no Escutismo aos 8 anos de idade, no Grupo 9 - Agrupamento 11 de Ruães, o nosso convidado acaba por, de imediato, realçar algumas diferenças na própria organização das Secções: era-se Lobito até aos 12 anos, altura em que se passava para os Exploradores e estes, aos 18 anos, iam para os Caminheiros, não existindo assim Pioneiros...

Acerca da forma como se vivia o escutismo, António Rodrigues centra-se em destacar a professão da Fé, como se, ser escuteiro, fosse uma própria complementaridade da catequese, e depois ainda havia a vantagem de também ser uma forma de conviver com amigos, "ter uma farda" ou mesmo "tocar na fanfarra"...

Apesar de realçar que, olhando em retrospectiva, considera que actualmente existe mais disponibilidade financeira para os próprios acampamentos e actividades, em contraponto, sublinha que, "nos tempos de outrora havia mais empenho dos elementos em ganhar as (parcas) actividades em que podiam participar, já que também só realizavamos 1 ou 2 acampamentos por ano, e eram apenas de fim-de-semana, bem perto de casa, porque tinha-se que ir para lá a pé, pois nem se podiam dar a luxos de andar de camioneta..."!

O progresso era encarado com bastante empenho e seriedade, e, talvez por isso, havia bastante dedicação aos cursos promovidos no Campo Escola de Fraião, para "saber ainda mais!" Apesar de ser um amante do Escutimo, a verdade é que António Rodrigues acabou por abandoná-lo pouco antes dos 18 anos, devido a, e passo a citar, "obrigações profissionais que lhe sugavam todo o tempo que dispunha", mas foi apenas uma despedida provisória...

À porta da sede do Agrupamento de Sto. António de Motael

Na tropa, em Timor, o escustimo acabou por bater à porta do nosso convidado, mais uma vez... Junto com Manuel Maria Costa e Domingos Ribeiro da Costa, surgiu a ideia de fundar o Escutismo em Dili, na Freguesia de Sto. António de Motael, de forma a instruir aos jovens Timorenses a Catequese, e "também de forma a mantê-los entretidos durante aquela ocupação militar".

Durante o primeiro cerimonial de Promessas em Sto. António de Motael, Dili

Assim, e junto com o, então pároco da freguesia, Júlio Aço, foi acertada a criação de uma sede e em 18/06/1972 realizou-se o primeiro cerimonial de promessas ("onde só havia Exploradores"), presidido por D. José, então o Bispo de Dili.

Os participantes do primeiro cerimonial de Promessas, à porta da Igreja

"Com naturalidade o escutismo cresceu, e no cerimonial das promessas do ano seguinte, já havia elementos em todas as secções!" Dada a pobreza, todo o fardamento foi importado do DMF, pago pelo Bispo de Dili...
Com o passar do tempo a equipa de animação foi aumentando e, entre eles, Capitães e Comandantes também já figuravam, portanto foi-se tornando cada vez mais fácil obter a dispensa para poder realizar actividades, relembra, com um certo esgar de saudade e orgulho, o nosso convidado...

Porém, em 1974, o nosso convidado acabou de cumprir o serviço militar e voltou a Portugal,"mas a gestão do agrupamento ficou bem entregue...", e com o bichinho a remoer, ingressou na equipa de animação do seu agrupamento na infância...

Agora, "velho, gordo e bem-disposto", o nosso entrevistado é membro da Fraternidade de Nuno Álvares, Associação dos antigos filiados do Corpo Nacional de Escutas, e garante que estará sempre ligado ao escutismo, seja pela fraternidade ou pelos próprios filhos...